terça-feira, 19 de maio de 2009

Pintura



Sabe aquele quadro na parede da sala
De um barquinho, na paisagem, esmaecido?
Temo o que pode ter acontecido
Se um dia houver prosseguido sua viagem.

É que o mar está revolto e tudo em volta
Embota-se ante a fúria primitiva
E o céu mostra uma única gaivota
Que não tem onde pousar, pois voa aflita.

O sol já vai cedendo ao negrume
Em sinal de que a noite logo vem
A intempérie castigando  os que têm
Apenas os relâmpagos como lume.

A chuva atravessa a noite fria
E se abate, como corvo agourento,
Sobre o barco que aderna com o vento,
Arrastando-o em extrema agonia.

De minha cama imagino os movimentos.
Ansioso, fico tenso, sem dormir,
Em sopesar a sina que o mau tempo
Reservou para o barco em seu porvir.

Mas vencido de cansaço e de terror
Cerro os olhos pela madrugada
Esquecido, finalmente , em meu torpor,
Da tragédia que se abate em minha sala.

Porém, mal entra o sol pela janela
Assombrando o repouso tão culpado
Compelido, de meu sono sou levado
A observar destroços pela tela.

Corro até a sala. Enganara-me!
Na parede o mesmo barco a navegar
O sol não se punha, mas raiava,
E a gaivota avistara onde pousar.

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