sábado, 15 de fevereiro de 2014

Tempo em transe

Todo dia é um começo,
mas o recomeço é a todo instante.

       Todo segundo conta,
mas nem toda contagem
importa.

O segundo todo
nem sempre é tudo,
mas tudo começa
em todo segundo.

E a vida,
no fuso
do relógio,
vegeta
presa
por aparelhos
que vibram,
alertam,
piscam,
e chamam
a atenção
para o tempo
que passa:
incerta
contagem
regressiva
para(lisa) o futuro.

Gênese

As vozes dissonantes no espaço,
lançadas à força do pensamento,
vagam sem destino até que o traço
as põe em mais modesto firmamento.

E o texto segue com mil vozes dentro.
Prisão e liberdade, o papel casto,
inerte sobre a mesa em um momento,
em poucas linhas faz-se o mais devasso.

O aço da palavra é sempre o mais fugaz,
em que se malha dia e noite, frio e quente,
em busca da forma que faz e se desfaz.

E finalmente quando a têmpera é atingida
lança-se a seta que cura a tua ferida
enquanto outras seguem a te tirar a paz.