quarta-feira, 6 de maio de 2020

Soneto

Mário Faustino – o lapidador de palavras - Templo Cultural Delfos


Necessito de um ser, um ser humano
Que me envolva de ser
Contra o não ser universal, arcano
Impossível de ler

À luz da lua que ressarce o dano
Cruel de adormecer
A sós, à noite, ao pé do desumano
Desejo de morrer.

Necessito de um ser, de seu abraço
Escuro e palpitante
Necessito de um ser dormente e lasso

Contra meu ser arfante:
Necessito de um ser sendo ao meu lado
Um ser profundo e aberto, um ser amado.

Mário Faustino, 1930-1962, "O Homem e sua Hora e outros poemas".

terça-feira, 5 de maio de 2020

O homem absurdo


Sou, repetindo o dia a dia, mero tolo
por querer, ainda assim, ver objeto
em minhas idas e vindas sem consolo
que não o de ser consciente do trajeto?


Desatino sem propósito, mas com afeto
pelo Sísifo que eleva a pedra ao morro,
esperando que não ceda ao próprio inferno,
mas que ande obstinado e curioso.


No absurdo desse mundo feito eco,
guardo a lucidez no próprio esforço
em desafio ao labirinto sempiterno.


E a verdade que penetra até o osso,
já não me incomoda se a enxergo.
Consciente, já não posso mais ser morto.