Como escreveu Mário Quintana: [...] Um poema não é para te distraíres como com essas imagens mutantes dos caleidoscópios. Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe Um poema não é também quando paras no fim porque um verdadeiro poema continua sempre... Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras!
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Soneto da Filha Adormecida
Todas as noites vejo o rosto sereno
E a respiração calma que a veste
Olhando para tudo e percebendo
Apenas onde pousa tão celeste.
E na penumbra do quarto compreendo
Que existe algo concreto como o ar
A invadir os pulmões em sorvo ameno
Como o ato vital de respirar.
Mas para bem dizê-lo falta à pena
Apreender o mais puro sentimento
Que surge, por encanto, dessa cena.
Pois quanto mais a diviso menos tento
Entender esse amor que se contenta
Apenas com a beleza do momento.
Redoma
Dentro dessa redoma
De um vidro fosco e sujo
Respingado pela lama
Fujo, fujo, fujo, fujo.
Mas volto ao centro de tudo
Se vou de encontro ao vidro
Barra-me a fuga e, confuso,
Fico, fico, fico, fico.
Já não sei o que se passa
Nessa redoma invencível ,
Mas é a vida, mais nada,
E vivo, vivo, vivo, vivo.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Quero Ignorado (Fernando Pessoa na veia)
Gravura de João Luiz Roth
Quero ignorado, e calmo
Por ignorado, e próprio
Por calmo, encher meus dias
De não querer mais deles.
Aos que a riqueza toca
O ouro irrita a pele.
Aos que a fama bafeja
Embacia-se a vida.
Aos que a felicidade
É sol, virá a noite.
Mas ao que nada 'spera
Tudo que vem é grato.
Fernando Pessoa
Quero ignorado, e calmo
Por ignorado, e próprio
Por calmo, encher meus dias
De não querer mais deles.
Aos que a riqueza toca
O ouro irrita a pele.
Aos que a fama bafeja
Embacia-se a vida.
Aos que a felicidade
É sol, virá a noite.
Mas ao que nada 'spera
Tudo que vem é grato.
Fernando Pessoa
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