quinta-feira, 13 de abril de 2017

Flagrante de um chapéu

Vi ontem um chapéu no chão,
conduzido pelo vento.
Não imagino quem seja
o dono, nem o pretendo.

Prefiro inventar histórias
de onde possa ter saído.
Participado de glórias,
histórias tristes vivido?

Trancafiado na caixa
antes que alguém o tirasse,
fibras de mole tecido,
em que cabeça pousaste?

Terá ido a uma festa,
ou foi de alguém que não quis,
sombra à cabeça do asceta
ou de um qualquer infeliz?

Acenou para a mulher,
que não o viu por um triz,
ou foi apanhado no abraço
caliente da meretriz?

De onde veio?
Pra onde vai?
Rodopiando no mundo
qual navio em muitos cais.

Terá o chapéu o destino
daqueles que o carregam
perdidos, sem rumo e tino
que à sorte pura se entregam?

Ou ele é que trilha e marca
a sorte dos que são donos,
como só quem pune a mágoa
de uma vida de abandono?

Eu já não posso saber.
Apenas o vi ao vento,
tangido sem pretender
ser eterno o seu momento
antes de ir se perder.

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